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Voto de Vingança

No começo desse século, a Argentina passou pelo período mais crítico de sua história. Após 10 anos de graves escândalos de corrupção, Carlos Menem renuncia, e a população se revolta. O país chega a ter 3 presidentes em apenas uma semana e a classe política passa a ser desprezada por completo pela sociedade argentina. Com o pensamento que todo político deve ser minado, os argentinos foram as urnas para eleger seu novo salvador. Começava o período Kirchner que devastou o país economicamente.


A mesma coisa aconteceu na Itália, após a Operação Mãos Limpas denunciar centenas de políticos envolvidos em corrupção. A ojeriza da população com a classe política em geral trouxe Berlusconi ao poder.


A história não deixa margem para dúvidas: todo país que passa por uma crise institucional grave e passa a ter um ódio irracional a toda classe política, sempre termina com um "Salvador" que no final deixa as coisas muito piores do que eram.


No Brasil não é diferente. Passamos pela maior crise política que já vivemos. A Lava Jato mostrou os bastidores dos nichos de corrupção que faziam a roda da política se movimentar. O ódio a todos os políticos passou a ser a tônica das eleições. Para muitos, tem que se acabar com os políticos tradicionais e trazer alguém que revolucione o sistema.


Em 2014, Dilma estava em 3o lugar nas pesquisas, não iria nem ao segundo turno. Decidiu mudar radicalmente o tom da campanha, lançando ódio a todos que estivessem perto. Para espanto de todos os especialistas, o discurso do ódio funcionou, e eles intensificaram isso. A campanha passou a ser sobre o ódio do rico contra o pobre, só porque o pobre estava viajando de avião. Acabou reeleita.


O ódio esfriou com seu impeachment, mas não diminuiu em nada sua intensidade. Essa mistura de ódio a classe política buscando um "salvador" contra tudo e todos, associado a uma necessidade de se vingar da esquerda por tudo que fizeram nos últimos anos é que é o maior responsável de colocar uma pessoa como Bolsonaro na liderança das pesquisas.


Bolsonaro é indiscutivelmente desprarado para o cargo. Ele admite isso, os seus eleitores admitem isso. Mas esses pouco ligam para isso. Estão mais preocupados no prazer que a vingança lhes trará ao esfregar na cara da esquerda brasileira a eleição de um militar da extrema-direita sem qualquer preparo.


Entendo de verdade as pessoas que votam em Bolsonaro como protesto. Entendo a raiva contra a classe política atual, contra um esquema de corrupção que beira os limites do absurdo, contra uma campanha de ódio deflagrada com cunho eleitoreiro. Entendo o pensamento que temos que eleger para presidente uma pessoa que destrua tudo isso - ou pelo menos prometa destruir. Entendo o prazer do voto de vingança contra a esquerda por tudo que ela fez nos últimos 13 anos.


A grande questão é que não elegemos um presidente por vingança. No Brasil atual, precisamos urgentemente alguém que tire o país da crise e o faça voltar a crescer. Gerar mais empregos e mais renda, que atuará diretamente na diminuição da pobreza e melhora da segurança pública, educação e saúde.

A vingança é saborosa servida fria. Pena que é um prato que se saboreie muito rápido. E depois que esse prazer passar, restará apenas mais um político da velha guarda sem a menor noção do que deve ser feito para tirar o país do buraco.


E a história novamente se repetirá.



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