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Chegamos ao fim do Neo-Iluminismo?

Atualizado: 12 de ago. de 2018



Daqui a um século é bem provável que os historiadores lembre o final do século XX como o uma espécie de neo-iluminismo. O fim da experiência com o comunismo e a estabilização do capitalismo como sistema prevalente levou a um grau de desenvolvimento nunca antes visto. A facilidade de troca de informações com a internet, a diminuição das barreiras alfandegárias e aumento do livre comércio permitiu a globalização, que levou países mais pobre a conseguir renda para sua população mais carente. Observamos a queda da pobreza para níveis nunca vistos antes, a redução da desigualdade social, maior respeito aos direitos humanos, um maior nível de tolerância às diferenças, aumento do livre trânsito de pessoas, da defesa da democracia representativa, da desregulamentação, da desmilitarização...

Só que de repente, tudo mudou. Trump se tornou o representante do mundo livre, retornando à cena a xenofobia e as tarifas comerciais. Muros antes derrubados voltaram a ser construídos, sejam eles físicos ou não.

Henry Kissinger, em artigo publicado em junho na revista “The Atlantic”, tocou no tema e expôs exatamente essa visão do pós-iluminismo moderno. Conclui dizendo que:

“...acho que Trump pode ser uma daquelas figuras da História que aparecem de tempos em tempos e marcam o fim de uma era.”

Apesar de Trump ser o símbolo do fim dessa era, outros líderes do mesmo perfil surgiram em todos os cantos do globo. Xi Jinping (China), Vladimir Putin (Rússia), Bashar al-Assad (Síria), Recep Erdogan (Turquia), Nursultan Nazarbayev (Cazaquistão), Maduro (Venezuela) parecem ser aqueles que sepultaram o que foi a democracia liberal.

Estamos levantando novamente as barreiras comerciais, elegendo líderes com características antidemocráticas ou, ao menos, flertes com esses traços. Voltou-se a dificultar o livre trânsito de pessoas, recuperou-se uma postura belicosa e armamentista não vista desde o fim da guerra fria (Coreia do Norte, Crimeia, Síria, Irã...) e passou-se a valorizar o nacionalismo em detrimento a organizações e instituições supranacionais. De uma hora para outra, a ONU passou a ser definida como ultrapassada. É desnecessária.

No Brasil essa onda nacionalista não seria obviamente ignorada. Mais do que apenas um candidato que representa o protesto do eleitor com a corrupção sistêmica na política brasileira, Bolsonaro também faz parte desses ventos nacionalistas que vieram de fora para soprar em terras tupiniquins.

No auge do Iluminismo, Voltaire, um de seus maiores expoentes, previu que 200 anos a sua frente - ou seja, hoje - o mundo estaria completamente diferente. A religião não ditaria mais as políticas tomadas pelos governantes. As barreiras praticamente não existiriam mais e a democracia plena liberal seria universal. A razão substituiria as principais decisões políticas e a palavra de ordem seria “liberdade”.

Mas ao invés disso passamos a discutir o tamanho do muro.


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